APAGANDO O PASSADO
A mecânica quântica fornece várias outras situações peculiares no nosso mundo ordinário. Uma delas é a habilidade de apagar o passado. Para ver como isso acontece, vamos voltar ao experimento de Young das duas fendas paralelas. Vamos relembrar que, desde que não monitoramos qual fenda um fóton (ou eletron) passa através dela, prevalece um comportamento ondulatório e franjas de interferência aparecem em toda sua glória num anteparo colocado atrás das fendas. Porém a partir do momento que usamos detectores atrás das fendas para espiar os fótons e determinar qual fenda eles atravessam, o comportamento de partícula aparece e as franjas de interferência desaparecem. A mecânica quântica vai ainda além. Ela permite que os fótons esperem até após eles passarem através das fendas antes de decidir qual dos dois aspectos complementares de realidade – onda ou partícula – eles adotarão, mesmo que a lógica ditasse que a decisão deveria ser tomada antes.
Para ver como isto acontece, vamos colocar detectores atrás das fendas para registrar os fótons que passam. Em tal situação, os fótons apresentam seu caráter de partícula e não se formam franjas. Até aqui nada fora do comum Agora suponha que, após os fótons terem passado pelas fendas, nós mudemos nosso intento e decidimos que já não estamos interessados na sua trajetória. Podemos colocar antes da tela (mas atrás das fendas) instrumentos cuja função é apagar a informação da trajetória. Logo que a informação é apagada, as franjas de interferência reaparecem como por mágica. Isto significa que os fótons trocaram seu caráter de partícula em favor de seu caráter ondulatório. Mas o que é realmente notável é que eles fizerem isso depois de atravessarem as fendas, em vez de fazê-lo antes. É como se os fótons soubessem antes da hora, mesmo antes de atravessar as fendas, que a informação ia ser apagada e consequentemente tivessem ajustado seu comportamento. Em outras palavras, a decisão tomada pelos seres humanos de ativar instrumentos para apagar informação pode influenciar a natureza da realidade retroativamente. A realidade quântica assim parece possuir alguma ligação misteriosa com o passado. Mas existe limite para isto. Ainda que as ações de um experimentador ou observador pode ajudar a determinar a natureza da realidade quântica no passado, sob nenhuma circunstância eles podem interferir com a causalidade de eventos passados. Você não pode, por exemplo, usar a mecânica quântica para enviar informação para o passado, impedir seus pais de se encontrar, e, desse modo, evitar seu próprio nascimento.
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