sexta-feira, 18 de abril de 2008

Judiciário Benevolente


O escroque internacional Salvatore Cacciola depois de dar um prejuízo de R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos brasileiros (escândalo nos bancos Marka e FonteCindam) e por isso foi incurso em vários processos penais em três Varas federais por gestão fraudulenta, corrupção passiva e peculato, tendo sido preso em 2000, fugiu para a Itália dias depois de ter a prisão relaxada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio de Mello (ele é primo do ex-presidente Collor que o nomeou para esse tribunal). Tendo sido preso em Mônaco está sujeito à extradição para o Brasil. Nesse episódio veio o sr. ministro dizer ao público brasileiro que o “acusado tem o direito de fugir” e ainda mais que repetiria tudo ainda hoje mesmo sabendo que o ex-banqueiro fugiria; em outras palavras ele não está arrependido do que fizera.
Mas deveria estar envergonhado por ter um de seus pares de outro tribunal superior negado um hábeas corpus para uma moça que furtara um pote de manteiga de um supermercado, há poucos anos atrás. É sempre a mesma rotina nesses casos: para os bandidos de alto coturno a lei e a justiça os favorecem com todos os parágrafos das nossas leis caducas; já para os desafortunados valem os rigores da lei (não estou defendendo os crimes dos pés-de-chinelo).
Ora, se todo preso tem “o direito de fugir” seria bom para a nossa economia que os diretores de presídios facilitassem a fuga de todos esses bandidos que o contribuinte sustenta, exceto para aqueles da estirpe de Cacciola que deveriam ser penalizados com rigor, isto é, resgatando todo o dinheiro roubado por eles, e, depois, segundo a lógica do ministro, dar-lhes a liberdade, mas de bolsos vazios.
Não há dúvida que o nosso judiciário sofre dos mesmos males do legislativo e do executivo. Estão dominados e contaminados por uma minoria – mas poderosa – de elementos perniciosos á sociedade, haja a vista os escândalos do mensalão, dos juizes que vendem sentenças judiciais para banqueiros do jogo do bicho, para os donos de caça-niqueis etc., e os escândalos bilionários entre altos funcionários do executivo e empresas de fachada; e, recentemente a farra com os cartões corporativos; tudo isso, de notório conhecimento público, graças a mídia.
No caso em tela o referido escroque que foi condenado a 13 anos de prisão, em 2005, vivia nababescamente com a mulher e filho em Roma onde comprara um hotel quatro estrelas para gente de alto poder aquisitivo, e cuja localização não poderia ser melhor: em frente ao Coliseu. Enquanto isso seus comparsas aqui no Brasil, entre eles o ex-presidente do Banco Central (BC), Francisco Lopes, vive tranquilamente depois de ter sido condenado a dez anos de prisão, pois ganhou o direito de recorrer em liberdade, com bons advogados, é claro.
Para completar o cenário de incerteza de desesperança que vem minando a sociedade brasileira de há muito tempo, perpassando pelo governo corrupto do sr. Collor e também outros que o seguiram, veio outra vez o referido sr. ministro do STF mandar soltar um grupo de contraventores que estavam presos, e que antes foram beneficiados por liminares fraudulentas concedidas por certos juizes de tribunais superiores para continuarem na contravenção a que estavam engajados. Com tudo isso, das duas, uma: ou o ministro é muito ingênuo ou quer permanecer sempre em evidência na mídia com seus juízos polêmicos.
Agora a (in)justiça brasileira espera a decisão do príncipe de Mônaco para extradita-lo para este paraíso da impunidade; provavelmente, se ficar preso aqui –o que é pouco provável- logo que cumprir 1/6 de cadeia – bancando o bom moço – irá para as ruas gozar do benefício bilionário que lhe dá este rico país de miseráveis. Tomara que o príncipe de Mônaco reflita bem sobre esse caso e lhe dê bons anos de cadeia... Caso contrário, logo mais o banqueiro fraudulento estará aqui nos trópicos sendo cortejado pela alta sociedade – como o fora há anos o ladrão do trem pagador de Sua Majestade, o ilustre sr. Ronadd Biggs. E se fosse mulher ainda iria posar nua em certa revista...
Leopoldino Ferreira.

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