domingo, 20 de abril de 2008

SIMETRIA QUEBRADA


A situação permanece perfeitamente simétrica desde que Jules e seu amigo sedentário Jim não se encontrem frente a frente. O que acontece agora quando Jules volta para a Terra e pode finalmente comparar seu relógio com o de Jim sem ter de confiar nas imagens de vídeo transportadas por ondas de rádio? Certamente, nesse ponto as coisas já não podem permanecer simétricas. Seu relógio deve estar ou adiantado ou atrasado ao de Jim, mas não podem ser ambas as coisas. Aqui é onde Einstein entra para resolver a questão: o tempo deve ter passado mais devagar para o aventureiro Jules do que para o sedentário Jim. Se Jules tem mantido uma velocidade constante de 80 por cento da velocidade da luz durante toda viagem, seu tempo terá fluido 60 por cento mais lento do que o de Jim. Vamos supor que sua viagem durou 20 anos segundo contado na Terra. Ele partiu no ano 2000 e voltou em 2020. Contudo, para Jules sua viagem terá durado 20 x0.6 = 12 anos. O calendário a bordo de sua aeronave lhe mostra que está de volta no ano 2012. A diferença é bem real. O coração de Jules terá batido menos, seus pulmões terão absorvido menos ar, seus cabelos não se tornarão muito grisalhos, e seu rosto não mostrará muitas rugas; ele não terá escovado seus dentes tão frequentemente ou feito muitas refeições.
Em suma, a simetria terá sido quebrada. Por que? Porque durante o curso de sua viagem, Jules tem feito mudança de velocidade; ele teve que acelerar e desacelerar. Ele teve que acelerar para ficar livre da força de gravidade da Terra e alcançar a velocidade de cruzeiro de 80 por cento daquela da luz, e depois ele teve que desacelerar à velocidade quase zero para ficar em repouso na superfície do distante planeta. Então ele teve que acelerar novamente para iniciar sua viagem de retorno, e desacelerar uma vez mais para um suave pouso na Terra. Estas acelerações e desacelerações são bem reais. Os astronautas as experimentam desde a primeira vez quando eles são pressionados fortemente contra seus assentos quando a espaçonave decola. Nós a experimentamos num carro que deixa um sinal vermelho cantando pneu ou num elevador expresso que vai para o último andar. A situação é simétrica entre Jules e Jim desde que a velocidade de Jules permaneça constante. Sob estas condições, dizer que o foguete de Jules se afasta de uma Terra fixa ou que a Terra se afasta de um foguete estacionário se resume numa mesma coisa. A simetria prevalece desde que as velocidades relativas são constantes. A partir do momento que há uma mudança de velocidade, a simetria está quebrada. O tempo de Jules se move mais lentamente do que o de Jim porque é Jules que está sujeito a acelerações e desacelerações.
E assim a fonte de juventude descoberta por Einstein assume um caráter muito peculiar. Tudo o que você tem que fazer para acumular muitos anos menos rapidamente é fincar o pé no acelerador. Mas você não pode usar a velocidade para diminuir sua taxa de envelhecimento no seu próprio referencial de tempo, somente em relação ao de alguém. Enquanto Jules viajava, ele sentia que estava envelhecendo quase normalmente. Somente após seu retorno à Terra ele notou que tinha envelhecido somente 12 anos, em vez de 20 que Jim tinha acumulado.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Judiciário Benevolente


O escroque internacional Salvatore Cacciola depois de dar um prejuízo de R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos brasileiros (escândalo nos bancos Marka e FonteCindam) e por isso foi incurso em vários processos penais em três Varas federais por gestão fraudulenta, corrupção passiva e peculato, tendo sido preso em 2000, fugiu para a Itália dias depois de ter a prisão relaxada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio de Mello (ele é primo do ex-presidente Collor que o nomeou para esse tribunal). Tendo sido preso em Mônaco está sujeito à extradição para o Brasil. Nesse episódio veio o sr. ministro dizer ao público brasileiro que o “acusado tem o direito de fugir” e ainda mais que repetiria tudo ainda hoje mesmo sabendo que o ex-banqueiro fugiria; em outras palavras ele não está arrependido do que fizera.
Mas deveria estar envergonhado por ter um de seus pares de outro tribunal superior negado um hábeas corpus para uma moça que furtara um pote de manteiga de um supermercado, há poucos anos atrás. É sempre a mesma rotina nesses casos: para os bandidos de alto coturno a lei e a justiça os favorecem com todos os parágrafos das nossas leis caducas; já para os desafortunados valem os rigores da lei (não estou defendendo os crimes dos pés-de-chinelo).
Ora, se todo preso tem “o direito de fugir” seria bom para a nossa economia que os diretores de presídios facilitassem a fuga de todos esses bandidos que o contribuinte sustenta, exceto para aqueles da estirpe de Cacciola que deveriam ser penalizados com rigor, isto é, resgatando todo o dinheiro roubado por eles, e, depois, segundo a lógica do ministro, dar-lhes a liberdade, mas de bolsos vazios.
Não há dúvida que o nosso judiciário sofre dos mesmos males do legislativo e do executivo. Estão dominados e contaminados por uma minoria – mas poderosa – de elementos perniciosos á sociedade, haja a vista os escândalos do mensalão, dos juizes que vendem sentenças judiciais para banqueiros do jogo do bicho, para os donos de caça-niqueis etc., e os escândalos bilionários entre altos funcionários do executivo e empresas de fachada; e, recentemente a farra com os cartões corporativos; tudo isso, de notório conhecimento público, graças a mídia.
No caso em tela o referido escroque que foi condenado a 13 anos de prisão, em 2005, vivia nababescamente com a mulher e filho em Roma onde comprara um hotel quatro estrelas para gente de alto poder aquisitivo, e cuja localização não poderia ser melhor: em frente ao Coliseu. Enquanto isso seus comparsas aqui no Brasil, entre eles o ex-presidente do Banco Central (BC), Francisco Lopes, vive tranquilamente depois de ter sido condenado a dez anos de prisão, pois ganhou o direito de recorrer em liberdade, com bons advogados, é claro.
Para completar o cenário de incerteza de desesperança que vem minando a sociedade brasileira de há muito tempo, perpassando pelo governo corrupto do sr. Collor e também outros que o seguiram, veio outra vez o referido sr. ministro do STF mandar soltar um grupo de contraventores que estavam presos, e que antes foram beneficiados por liminares fraudulentas concedidas por certos juizes de tribunais superiores para continuarem na contravenção a que estavam engajados. Com tudo isso, das duas, uma: ou o ministro é muito ingênuo ou quer permanecer sempre em evidência na mídia com seus juízos polêmicos.
Agora a (in)justiça brasileira espera a decisão do príncipe de Mônaco para extradita-lo para este paraíso da impunidade; provavelmente, se ficar preso aqui –o que é pouco provável- logo que cumprir 1/6 de cadeia – bancando o bom moço – irá para as ruas gozar do benefício bilionário que lhe dá este rico país de miseráveis. Tomara que o príncipe de Mônaco reflita bem sobre esse caso e lhe dê bons anos de cadeia... Caso contrário, logo mais o banqueiro fraudulento estará aqui nos trópicos sendo cortejado pela alta sociedade – como o fora há anos o ladrão do trem pagador de Sua Majestade, o ilustre sr. Ronadd Biggs. E se fosse mulher ainda iria posar nua em certa revista...
Leopoldino Ferreira.